Estudo da S2F Partners mostra o tamanho do prejuízo que o Brasil pode
ter caso não altere a forma de manejar resíduos sólidos • Karina Chung /
CNN Brasil
“Esses impactos de contaminação do solo, contaminação das águas,
emissões de poluentes na atmosfera, a questão de depleção da camada de
ozônio, acidificação dos mares, tudo causado por essa destinação
inadequada de resíduos sólidos acaba sendo transformado num custo
monetário”.
Quem explica sobre o que são as externalidades é Carlos Silva Filho,
presidente da International Solid Waste Association (ISWA) e um dos
autores da pesquisa.
“E se fizermos então essa tendência, essa perspectiva para 2050, esse
custo chega a mais de 130 bilhões de reais só com as externalidades,
sem contar os custos pra tratamento dos problemas de saúde causados por
essa má gestão de resíduos”, continua.
“Nós teremos então que sair de 4% de recuperação pra 48% em pouco
menos de 20 anos, contar de hoje. Então a a tarefa é bastante
desafiadora, demanda ações concretas e demanda investimentos efetivos.”,
diz Carlos Silva Filho, presidente da International Solid Waste
Association (ISWA) • CNN Brasil
Atualmente, 30 milhões de toneladas de resíduos que deveriam receber uma
destinação correta são encaminhados todos os anos a lixões e aos
chamados aterros controlados, que enterram os resíduos. Mas a medida
ainda está longe do que prevê o plano nacional de resíduos sólidos, que
tem como meta aumentar a reciclagem nas próximas duas décadas.
Especialistas em Meio Ambiente indicam que o solo do aterro
sanitário, independentemente de preparo ou de isolamento, possui um
limite para receber grandes quantidades de lixo por muito tempo – ainda
mais considerando que muitos dos resíduos ali depositados poderiam ter
uma outra destinação.
Além disso, os resíduos acomodados nos aterros podem trazer impactos
preocupantes, como a poluição dos lençois freáticos, em caso de
vazamento.
“O primeiro passo é encerrar o lixão e encerrar essas práticas de
destinação inadequada, inclusive com os tais aterros controlados que não
passam de lixões maquiados”, argumenta Carlos Silva Filho.
“Na sequência, nós precisamos avançar na recuperação dos resíduos
como um recurso, ou seja, avançar com a recuperação da fração seca, mas
também é muito importante que a gente passe a endereçar também a
valorização da fração orgânica, e resíduo orgânico é metade dos resíduos
sólidos urbanos gerados no Brasil”, continua.
No Brasil, o índice de reaproveitamento de resíduos sólidos está
parado entre 3 e 4% há mais de dez anos. O número é bem abaixo da média
global, que está em 19%, segundo o estudo da S2F Partners.
“Nós temos nos resíduos sólidos urbanos, cerca de 46% matéria
orgânica, 33% fração seca. Este material é potencialmente recuperável,
ele tem um valor. E de acordo com a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, somente rejeito deve ir para aterro sanitário, aterro
licenciado, obra de engenharia. Nós teremos então que sair de 4% de
recuperação pra 48% em pouco menos de 20 anos, contar de hoje. Então a
tarefa é bastante desafiadora, demanda ações concretas e demanda
investimentos efetivos”, diz Silva Filho.
Já Pedro Jacobi, professor titular senior do Instituto de Energia e
Ambiente da USP (IEA-USP), destaca a questão cultural envolvendo o
descarte irregular de resíduos no Brasil.
“A má coleta de resíduos se reflete diretamente na qualidade de vida
urbana, nas condições de observar ao percorrer muitas cidades os
resíduos que ficam simplesmente jogados no meio da rua. E que as pessoas
acabam vendo um pouco de resíduo e… jogam mais ainda. Tem uma questão
também cultural mesmo, não?”, observa.
Entre as alternativas para diminuir o volume de resíduos que vão para
os aterros sanitários estão medidas como a reciclagem e a compostagem.
Outras iniciativas, como incentivos ao consumo sustentável e a
reutilização de embalagens e de outros produtos, também ajudariam a
melhorar a situação. É a chamada economia circular.
“Quando estamos falando da economia circular, temos que pensar que
temos a possibilidade de reciclar, de reaproveitar. E isso também é uma
perspectiva fundamental, porque ao reaproveitar certo tipo de material,
eu vou reduzir também o impacto da extração de muitos tipos de insumos”,
diz Jacobi.
“Não são iniciativas novas, já existem muitas experiências e tudo
isso pode ser claramente incorporado dentro de uma perspectiva de
reduzir significativamente o volume de resíduos que vai para os
aterros”, completa o professor.
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