sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A ligação entre o 'SS Rio Grande', naufragado a quase 6 km de profundidade, e as caixas misteriosas encontradas desde outubro de 2018 na costa nordestina, foi descoberta por pesquisadores que buscavam informações sobre as manchas de óleo que atingiram as praias nordestinas nos últimos meses.

O navio, de origem alemã, recebeu um nome latino para passar despercebido pelos Aliados no Oceano Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial.
"A gente não tem como afirmar, é pouquíssimo provável que seja o óleo deixado da embarcação, pois são tipos de óleo muito diferentes", completou o professor Carlos Teixeira, do Labomar, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A chegada até o SS Rio Grande se deu por meio da modelagem para traçar a possível origem do óleo nas praias do Nordeste. Usando modelos para analisar o comportamento do líquido no Oceano de acordo com as correntes marítimas, os pesquisadores da UFC chegaram a uma série de naufrágios, entre eles o da embarcação alemã.
O navio está a mil quilômetros da faixa litorânea nordestina, segundo os pesquisadores Carlos Teixeira e Luís Ernesto Arruda, que identificaram de onde vinham os fardos. O local onde o SS Rio Grande está é quase dois quilômetros mais profundo do que o famoso Titanic, encontrado a 3.843 metros de profundidade.
Como o navio já havia sido descoberto, as pesquisas no Ceará que levaram até as informações foram feitas por meio de cruzamentos de dados históricos, com ajuda de computadores.
Conforme o professor Luís Ernesto Bezerra, cerca de 200 caixas foram encontradas em todo o litoral. Só no Ceará, os fardos apareceram nas praias de Aracati, Camocim, Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Trairi e Pecém, além do Serviluz, em Fortaleza.
Em julho deste ano um mergulhador cearense encontrou uma bomba não explodida no litoral de Fortaleza. A bomba estava fincada na areia a aproximadamente 11 metros de profundidade do nível do mar e foi recolhida pela Marinha.

O USS Omaha no porto de Nova York Foto: Comando de História e Herança Naval dos EUA

HISTÓRIA DO NAVIO
Construído em 1939, o Rio Grande era um navio civil que tentava transportar carregamentos durante o maior conflito da história. Utilizando um nome latino-americano para fugir das frotas Aliadas, que caçavam navios alemães nas águas do Oceano Atlântico, a embarcação havia saído do Recife no dia 2 de janeiro. Para isso, tentara fugir de um bloqueio naval imposto pela Marinha dos Estados Unidos.
Carregava 500 toneladas de lata, 2.370 toneladas de cobre, 311 toneladas de cobalto e uma quantidade não especificada de borracha crua embalada.
Apesar da tentativa de fuga, o SS Rio Grande foi avistado pelo cruzador USS Omaha e o contratorpedeiro USS Jouett. As embarcações americanas tentaram estabelecer contato com o barco não identificado quando ele estava entre a cidade de Natal  e a Ilha da Ascensão.
Sem resposta, os navios americanos abriram fogo contra a embarcação misteriosa, que afundou. Ao fazerem um reconhecimento na área, os tripulantes do Omaha e do Jouett identificaram alguns sobreviventes, que não tentaram resgatar.
No dia seguinte, a embarcação Marblehead voltou ao local e conseguiu resgatar 72 pessoas. Depois, as equipes locais conseguiram identificar com certeza o navio: era o Rio Grande, que seguia rumo ao Norte e vinha do Oriente.
 O local do naufrágio só foi confirmado em 1996, quando uma equipe da empresa Blue Water Recoveries encontrou o SS Rio Grande a 5.700 metros de profundidade.
O relato do naufrágio do Rio Grande está disponível no portal Sixtant, que reúne informações sobre as embarcações da Segunda Guerra Mundial no Atlântico Sul e é comandado pelo capitão Ozires Moraes. O episódio também consta no perfil do USS Omaha nos registros do Comando de História e Herança Naval dos Estados Unidos.
CONTAMINAÇÃO
Ainda que sua origem seja desconhecida, o petróleo já afetou centenas de locais na costa brasileira. Até o momento, 63 municípios de 9 estados registraram a presença do líquido, que afeta profundamente o ecossistema marítimo, sua fauna e flora.
Segundo o Ibama, 139 localidades entre o Maranhão e a Bahia foram afetadas, com apenas uma fração delas tendo iniciado trabalho de limpeza.

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