Quando Wesley Safadão procurou o neurocirurgião Francisco Sampaio Júnior, em São Paulo, ele sabia que o cantor tinha um diagnóstico anterior de hérnia de disco, mas os sintomas estavam mais intensos, a crise atual era pior e diferente das anteriores. Safadão se queixava de fortes dores nas costas que impossibilitava a sua locomoção, sentia dormência nas pernas e, após um período, começou a se queixar de dores agudas nas partes íntimas.
Imediatamente uma luz vermelha acendeu na cabeça do profissional, pois ele não tinha apenas sinais de uma hérnia de disco inicial, mas sintomas neurológicos graves. Foi pedido uma série de exames que constatou não uma simples protusão de hérnia de disco, mas sim uma extrusão, terceira e mais grave, fase de um processo degenerativo dos discos intervertebrais, causada principalmente por uma variação anatômica de nascença que Wesley tem e afeta 15% da população mundial.
— Nós chamamos de vértebra de transição que nada mais é do que uma vértebra a mais entre as regiões lombar e sacral. Enquanto a maioria das pessoas tem cinco vértebras lombares, ele tem mais uma. Isso garante a ele uma predisposição a ter uma doença mais grave nos discos. Em cada 100 nascimentos, pelo menos 15 nascem com essa vértebra — afirma o doutor Francisco Sampaio Junior em entrevista exclusiva ao GLOBO.
Este problema de nascença está relacionado a crise que o cantor teve em 2018, e na mais recente, que o fez ficar internado na semana passada, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo e, consequentemente, o fez cancelar sua agenda de shows por tempo indeterminado.
A hérnia de disco extrusa é uma das mais graves, pois é quando o ânulo fibroso já está tão comprimido e desgastado que há uma ruptura e o núcleo pulposo, que é uma espécie de recheio gelatinoso que absorve os impactos da coluna, vaza para fora e escorre pelos músculos e nervos da coluna, o que causa as inflamações e as dores.
— É como se fosse aqueles chicletes com recheio. Ao espremer a goma de mascar, o mel vaza para fora. É exatamente isso que acontece na coluna, a gelatina explode para fora do anel e começa a comprimir os nervos gerando déficits motores — diz o doutor.
Outro fator que contribuiu para o agravamento do caso de Safadão é que, por conta da vértebra de transição, a extrusão ocorreu em um nível elevado da coluna, entre as vértebras L3 e L4, aumentando a possibilidade de mais nervos serem penalizados e ampliando a gravidade do estado de saúde do cantor.
— Ele começou a sentir fortes dores nas genitais o que acendeu uma luz vermelha na minha cabeça. Se persistisse eu precisaria operá-lo. Isso poderia ter deixado sequelas irreversíveis no Wesley, como a perda da força nas pernas, nos pés, impossibilitar uma locomoção normal e dificuldade para urinar sozinho. Complicações neurológicas seríssimas. Não podíamos correr este risco. Então fizemos um tratamento intensivo que tem como principal função bloquear a dor lombar e na perna para que o paciente possa aguardar a absolvição natural do núcleo pulposo, que acontece entre 6 e 8 semanas, numa situação aceitável — complementou o médico.
Este foi o principal motivo para o neurocirurgião ordenar o repouso absoluto do artista. Apesar de Wesley estar sentindo menos dor, o médico é enfático ao dizer que o artista ainda não está curado da doença e que tem limitações de mobilidade. O cantor não pode fazer movimentos bruscos, como correr, andar de um lado para o outro como faz em seus shows, muito menos gritar.
Toda e qualquer atividade que fizer nos próximos dias será acompanhada e avaliada, tanto por Francisco, quanto pelo fisioterapeuta, doutor Mario Muniz Amorim, que acompanha o cantor desde 2018, quando teve a primeira crise de hérnia de disco.
— Não podemos correr riscos, temos que pecar pelo excesso. É um mal necessário afastá-lo dos palcos neste momento — afirmou doutor Francisco.
Na terça-feira, 05, Wesley fará uma nova ressonância e dependendo do resultado ele poderá ser liberado para voltar a agenda de shows. Apesar de não comentar o possível resultado, o neurocirurgião é otimista. — Vamos ver se houve uma absolvição parcial, se diminuiu o dano ao nervo e, além do exame de imagem, vamos observá-lo, saber o quadro clínico dele. Ver se ele está bem, disposto, sem dores. Se for favorável, com certeza liberaremos ele para voltar aos palcos ainda nesta semana.
Mas, claro, com limitações. Assim que passar a fase aguda das dores, Wesley deverá voltar a fazer exercícios físicos de menor impacto, como uma caminhada e pilates, todos os dias da semana pelo menos duas vezes ao dia. Como uma forma de prevenir que outros problemas de coluna, gerados pela vértebra de transição, apareça de surpresa.
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